sábado, 27 de fevereiro de 2010

"Porto Alegre me dói..."

! E um dos mais profundos amores é o amor pelo lugar. Ah, Porto Alegre, porque o que sinto por ti chega a doer. Substituo, ainda que por alguns instantes, o papel de passante e tomo àquele de observador: a tríade Santander cultural - Memorial do RS - MARGS forma a faixa de concreto-artístico que dá de frente para o caos humano. Feias ou bonitas, limpas ou sujas: pessoas ali, sempre em movimento. Movimento é a palavra-chave; alguns tão rápido que não contemplam a magnificência das árvores envelhecidas daquela que se chama Praça da Alfândega. É ali que se vê gente: entre aposentados e jovens casais de namorados, executivos em hora do break e hippies a vender brincos, freiras, prostitutas, artistas, mendigos, coabita a sabedoria e a inocência... E quem é mais sábio e/ou mais inocente? Recuso-me a tentar responder tal pergunta tomando o lugar-comum da moral como ponto de partida.

Foi, é e sempre será uma questão de olhar, de necessidade e de vontade. A juventude, de certa forma, mantém-se cega para os encantos do cotidiano e é um paradoxo que, mesmo com tanta vida pela frente, corra-se tanto contra o tempo. É por causa dessa corrida desmesurada que a alma envelhece: não importa se as ruas são oblíquas, retas ou se têm pedras ou fendas no caminho, o ponto crucial é que não se olha para os lados, nem para frente... E não se olha nos olhos de quem vem em tua direção (mas por que olhar, se são pessoas que vão para o rumo oposto ao teu e, sendo assim, não importam, não te importam...).
Os sons da rua, por mais altos que sejam, não causam perturbação porque a única voz que se escuta é aquela da mente que grita incessantemente “Eu!”. Não, não acredito que egoísmo e egocentrismo sejam características de poucos, nem tampouco acredito que seja um mal da pós-modernidade (ou modernidade, já que para alguns teóricos a pós-modernidade não existe).

Sim, passarei por ali (e por outros tantos lugares) com pressa e não verei a verdade crua e necessária, mas sei que sempre que puder (e quiser) poderei reassumir o papel de observador e experimentar a doce e suave sensação de amor pelo meu lugar.