sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

De repente, sinto as pernas bambas, um arrepio na alma, uma palpitação que há muito tempo não sentia... Dói. Mas viver sempre implica doer, nem que seja um pouco e em determinados momentos. Todos sabem, mas acostumar-se com a dor é inumano. Sempre teremos a capacidade de (alguns tendência a) sermos desumanos, mas jamais inumanos.

As pernas continuam bambas, porque o corpo expressa as angústias da alma, mesmo que com discrição. Nunca fiz questão de ser discreta, não quando se trata de sentimentos, de resto, tenho preferido passar despercebida; os melhores rastros que se pode deixar para a posteridade são aqueles ligados ao mérito e não aqueles ligados ao exibicionismo.

Medo da intolerância: a dos outros e a minha. Mania de ser deus, mesmo quando não se está com a razão... E dar o braço a torcer é duro para pessoas de caráter forte. Às vezes, no entanto, é preciso ceder, seja por amor, seja por sobrevivência... E muitos não sobrevivem, muitos não amam... Amar tem lá seus destemperos, mas sempre vale à pena.


sábado, 11 de setembro de 2010

Do excesso e da exposição espontânea e instantânea

Mais do que nunca, o excesso de exposição ganha espaço em, no mínimo, três sites de relacionamento difundidos mundialmente: o facebook, o orkut e o twitter. Todo mundo sabe da vida de todo mundo em todo o mundo.
O facebook, o “menos pior” de todos, serve para a exposição entre “amigos”; é uma versão mais light de compartilhar soluços, aquisições, divagações, titulações, etc, embora possa ser usado como o orkut, no qual alguns fornecem todos os seus dados sem nenhuma restrição de acesso e, como se não bastasse, recheiam de fotos mostrando os momentos mais diversos e curiosos possíveis. Claro que estas fotos devem mostrar o quanto a pessoa é “feliz” e, para tanto, as que servem melhor para este objetivo são aquelas “na balada” dos sorrisos forjados e dos copos de cerveja (ou taças de vinho, vá saber). Ah, a legenda tem que reforçar esta ‘felicidade’ compartilhada, claro.
O terceiro dos sites de relacionamento e o pior de todos é, sem dúvida, o twitter. Nele, as pessoas dividem com seus “seguidores” situações da vida que vão das mais banais, como “acordei e é um lindo dia”, “to indo almoçar” ou “to saindo agora para o cinema”, até as mais sérias, como “fui demitido”, “meu ex-marido é um cafajeste” ou “luto”. O twitter é a página na qual milhares de vozes, cada uma correspondendo a um “eu-solitário”, gritam “Olha pra mim! Eu to aqui!”. Certo que nem todo mundo faz uso excessivo do twitter, entretanto outros parecem tomá-lo como treinamento para empreendimentos maiores, afinal, o percurso que vai do twitter ao Big Brother não é tão grande assim, a diferença é que neste os protagonistas da exposição espontânea e instantânea recebem dinheiro para compartilhar seu acordar, seu dormir e entre um e outro tudo que se pode fazer (ou não) em uma jornada.
Tenho perfil no facebook e no orkut, mas tento fazer o melhor uso possível deles, não fornecendo informações valiosas e, tampouco, tentando parecer ser quem não sou. O twitter? Ah, não, isto já é demais; contento-me em espiar, quando não tenho absolutamente nada melhor para fazer, o quão tolas e solitárias podem ser algumas pessoas... E elas vão perdendo a graça brusca ou paulatinamente.
Em um tempo em que há câmeras nos banheiros, nas ruas, nas salas de aula e a autoexposição é meio de autopromoção, competição e poder, devo mesmo ser um tanto anacrônica ao querer zelar por alguns segredos e o mínimo de privacidade.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

"Porto Alegre me dói..."

! E um dos mais profundos amores é o amor pelo lugar. Ah, Porto Alegre, porque o que sinto por ti chega a doer. Substituo, ainda que por alguns instantes, o papel de passante e tomo àquele de observador: a tríade Santander cultural - Memorial do RS - MARGS forma a faixa de concreto-artístico que dá de frente para o caos humano. Feias ou bonitas, limpas ou sujas: pessoas ali, sempre em movimento. Movimento é a palavra-chave; alguns tão rápido que não contemplam a magnificência das árvores envelhecidas daquela que se chama Praça da Alfândega. É ali que se vê gente: entre aposentados e jovens casais de namorados, executivos em hora do break e hippies a vender brincos, freiras, prostitutas, artistas, mendigos, coabita a sabedoria e a inocência... E quem é mais sábio e/ou mais inocente? Recuso-me a tentar responder tal pergunta tomando o lugar-comum da moral como ponto de partida.

Foi, é e sempre será uma questão de olhar, de necessidade e de vontade. A juventude, de certa forma, mantém-se cega para os encantos do cotidiano e é um paradoxo que, mesmo com tanta vida pela frente, corra-se tanto contra o tempo. É por causa dessa corrida desmesurada que a alma envelhece: não importa se as ruas são oblíquas, retas ou se têm pedras ou fendas no caminho, o ponto crucial é que não se olha para os lados, nem para frente... E não se olha nos olhos de quem vem em tua direção (mas por que olhar, se são pessoas que vão para o rumo oposto ao teu e, sendo assim, não importam, não te importam...).
Os sons da rua, por mais altos que sejam, não causam perturbação porque a única voz que se escuta é aquela da mente que grita incessantemente “Eu!”. Não, não acredito que egoísmo e egocentrismo sejam características de poucos, nem tampouco acredito que seja um mal da pós-modernidade (ou modernidade, já que para alguns teóricos a pós-modernidade não existe).

Sim, passarei por ali (e por outros tantos lugares) com pressa e não verei a verdade crua e necessária, mas sei que sempre que puder (e quiser) poderei reassumir o papel de observador e experimentar a doce e suave sensação de amor pelo meu lugar.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O fazer sentido e o querer

“Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos”.

Quero sim. E quero falar também o que aprendi nos livros, nos filmes, nas estações, na solidão... Sem academicismo, didatização, teorização; somente a fruição... Prazer pelo prazer e todas as emoções ali contidas: emaranhadas, indefinidas, em suspensão. Sempre fica algo em suspensão, algo que permanece em repouso, em uma gaveta oculta, para ser refletido/sentido um dia, um ano, uma década depois, pois o sentido das coisas é (des)construído paulatinamente.
Anos a fio sem ter uma explicação plausível ou quista, mas o fazer sentido não depende da vontade mais subjetiva e o querer é (ou pode ser) vasto, vago e, às vezes, vazio. Vazio, aliás, combina com os quereres mais curiosos, estrangeiros, incoerentes, seja porque assim querem ser interpretados, seja porque, de fato, assim os são.
Voltas e voltas sem chegar a lugar algum, mas não se esmorece com isso. No fim e no fundo, todos sabem exatamente o que se passa lá dentro, mesmo que mintam para si mesmos ou para os outros.