quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ser tudo, tantos, nada, ninguém































Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.


Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.


Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!



(Fernando Pessoa)



Há quem diga que tenho duas dentro de mim... Não procede: tenho dez, cem, mil... Todos têm tantos eu's, afinal... Não dá para ser igual o tempo todo, a ocasião determina a atitude, a companhia liberta ou escraviza as camadas mais profundas do verdadeiro ser. Sou o que sinto, o que acredito, o que desejo, o que me faz feliz (e infeliz)... Sou o que quero, com quem quero e quando quero... Quero tantas coisas, quero poder ser mil e não receber nenhum rótulo... Quero ser eu's.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Frase do dia. Tema: Trabalho

"O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade."
(Voltaire)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Pensamentos Soltos - Parte I

Sim, mudei... Mas a mudança refletida no outro não supõe a mudança invisível aos olhos. O tempo transforma a gente... quando não nos devora, ensina-nos... Hoje estou mais calma, a revolta que havia em mim não traspõe mais os limites da alma, meu corpo já não está mais doente.
Cair pede o levantar-se... Com bons amigos, a vida torna-se mais agradável... A palavra-chave é, novamente, META. As metas mudaram em parte, mas agora são única e exclusivamente minhas! Claro que, ao segui-las, espero contar com a presença de algumas pessoas deveras importantes... Ah, elas sabem que são... ;)

"A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas".
(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 12 de janeiro de 2008

Top 5 Cinema Nacional

Por muito tempo o cinema nacional sofreu à margem das grandes (e não tão grandes) produções de A Grande Indústria ou Hollywood. Foi aí que Central do Brasil, de Walter Salles, foi lançado, em 1998, e causou grande impacto devido à sua qualidade e destaque, inclusive em alguns prêmios internacionais. Mas o boom do cinema nacional deu-se em 2002, com o lançamento de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, este foi o marco do cinema sangrento nacional, depois dele apareceram alguns outros na mesma linha violenta e que venderam muito devido à suposta identidade nacional (ou de grupos que revelam uma daS realidadeS nacionais) ~> Carandiru, de Hector Babenco, de 2002 também e o último suspiro do cinema violência: Tropa de Elite, de José Padilha, de 2007.
Após essa pequena introdução, vamos ao que interessa ou ao que me interessa mais... Os filmes acima citados não são meus preferidos nacionalmente selecionando. Inclusive, acho lamentável que pouquíssimos filmes nacionais recebam tanto destaque. Muitos filmes bons nem chegam à mídia... ou tu descobres num Festival Cultural ou encontra por acaso em locadoras mais alternativas.
Farei um Top 5 Filmes nacionais que eu vi e recomendo, sem sinopse, afinal, o google também serve para essas coisas. A ordem é aleatória e, como toda lista de melhores, esta é também totalmente arbitrária.

1. O homem do ano, de José Henrique Fonseca (2003)
2. Contra Todos, de Roberto Moreira (2004)
3. Crime Delicado, de Beto Brant (2005)
4. Bicho de 7 cabeças, de Laís Bodanzky (2000)
5. A Máquina, de João Falcão (2005)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Letras-UFRGS... Que tal ?

Todos nós somos preconceituosos. Em menor ou maior escala, não importa se hoje, ontem ou amanhã... no século XXXII a.C ou no século XXI d.C... Norte, Sul, Oriente e Ocidente... Alguns têm preconceitos tolos, banais...outros têm preconceitos que conduzem à prisão... Preconceito de raça, religião, opção sexual, naturalidade, idade (muita ou pouca)...preconceito de loura (e de morena e de ruiva, quer dizer, preconceito contra a mulher de forma geral), preconceito contra solteiros (e casados), preconceito contra os fiéis (e os traidores), preconceito de ter preconceito... Mas quero falar em especial de um preconceito: o preconceito que diz respeito à inteligência de alguém (ou melhor, a falta dela).
Absorvida pela necessidade de adentrar à Universidade, acabei optando pelo curso de Letras, ou curso dos pseudointelectuais como dizem por aí, ainda mais onde eu fui parar: a Letras da UFRGS... Bom, quanto aos pseudos, é uma semi-verdade. Semi-verdade porque não existe uma verdade absoluta, porque esse parecer não diz respeito a todos, mas a uma boa parcela... Docentes e discentes!
Mas, antes de continuar esse papo, direi meu conceito de pseudointelectual:

Pseu.do.in.te.le.ctu.al s.m. Aquele que faz questão de inserir em conversas banais autores como Machado de Assis, Dostoievski, Proust, Cervantes, a tríade Sartre-Simone-Camus, entre outros tantos... Alguém até disse lá na Letras "eu sou o Dr. mais jovem do Brasil". Será ? Deve ser... Mas como diria um professor que admiro muito "ser um gênio da Matemática ou da Física é até fácil de se conseguir aos 28, 30 e poucos anos, mas alguém das ciências humanas...". De fato, é coisa de pseudointelectual ter 30 anos e se achar maravilhoso por causa de um título. O pseudointelectual tem preconceito por quem não leu os autores citados acima, por exemplo... ou tem preconceito por aqueles que não conhecem os filmes da Nouvelle Vague francesa ou por aqueles que não tem em seu rol de músicas favoritas a Nona Sinfonia de Beethoven (que faz parte da trilha sonora de um dos filmes mais apreciados pelos pseudos: A Clockwork Orange - Laranja Mecânica). Bom, pseudo é isso e muito mais, mas com muito menos conteúdo do que eles tentam demonstrar. Alguns até têm seu charme, outros são insuportavelmente irritantes.

Muitos chatos intelectualóides, muitas pessoas legais também... professores inesquecíveis, aulas maravilhosas, algumas que dão sono (mas onde isso não existe?!)... Eu gosto do curso de Letras da UFRGS e, por favor, não nos chamem de pseudointelectuais: eles existem, mas nosso curso não merece tal generalização.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Psicologia, Astrologia e algumas porcarias...

Há uns meses atrás, fui em uma psicóloga... Terrível! Ela era um misto de pseudovidente com macumbeira macrobiótica. O que alguém espera quando entra no consultório de um psicólogo ? Bom, na época, eu queria, sobretudo, poder controlar meus nervos, no entanto, saí daquele consultório mais estressada do que havia entrado. Sentada de frente para a psicóloga, em poltronas um tanto démodés, eu não sabia se ria ou chorava diante do turbilhão de perguntas sobre minha infância, adolescência e primeiros anos da vida “adulta”... tudo isso numa sessão de 50 minutos. Eu respondia. Em alguns momentos eu continha o riso, em outras eu queria escapar dali, foi aí que eu quis testar aquela mulher que estava na minha frente, aí perguntei que linha da Psicologia ela seguia, ela não me deu uma resposta convincente. Imaginei que ela havia comprado o diploma ou feito um curso por correspondência ou que era, simplesmente, uma golpista.
O cheiro de incenso pairava no ar, nas paredes do consultório havia alguns mapas astrais, a decoração do ambiente contava com alguns objetos místicos. Ah, além de tudo, a psicóloga trabalhava com remédios florais... Não sei por que, mas não confio em psicólogos que trabalham com remédios florais, até porque até onde eu sei o tratamento com o uso de remédios não está no escopo da Psicologia. O pior é que o uso de florais está cada vez mais disseminado entre os “psicólogos”. Quando eu estava de saída, ela me abraçou e disse "agora eu sou uma nova amiga tua", eu pensei "a diferença é que meus amigos não cobram para ouvir meus problemas". Nunca mais pus os pés naquele "consultório".


Da história acima pode-se depreender, no mínimo, uma reflexão: Quem são os profissionais que estão atuando no mercado de trabalho ? Seja na Psicologia, na Medicina e outros campos da saúde, tais como Odontologia e Enfermagem... O mesmo questionamento pode ser remetido ao perfil do profissional da educação, da comunicação, etc,etc.
A saúde pública é caótica, que médicos são estes ? Por que eles não são tão ardorosos quanto o são na hora de concorrer a uma vaga no curso de Medicina, através do vestibular ? As clínicas e os hospitais particulares também não são tão primorosos assim...
Na Educação as coisas também vão mal, o professor, que não é mediano e frustrado, acaba passando por utópico.
Profissionais cretinos, aliás, estão presentes em todos os lugares. Fugindo da generalização, pode-se dizer que há sempre uma fruta contaminada (ou algumas) em qualquer setor do trabalho, desde as profissões mais subalternas até os grandes cargos. O que falar do tão picaresco funcionalismo público ? Muitos CC’s (ou cargos de confiança), advindos de um nepotismo desgraçado... Mas não estou generalizando, que fique bem claro, até porque conheço ótimos funcionários públicos... E não confundamos alhos com bugalhos.
A verdade é que o trabalhar, na maioria das vezes, é só meio de subsistência, e sendo assim ainda tem mais valor do que quando significa somente status. Onde estão os profissionais que amam suas profissões ? Onde encontra-se esse pequeno nicho de apaixonados pelo que fazem ? Espalhados aos quatro ventos, eles existem sim, mas, infelizmente, acho que estão em via de extinção.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Tem dias que...................



Tem dias que se sente tudo, sente-se forte, mas tudo é desconexo... nada se pode explicar... Tem dias que o silêncio faz-se necessário, porque nenhuma palavra explicaria nenhum pensamento, nenhum sentimento..............................................................................................................................................................................................................................................................................................................

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Dos "valores" e da "boa" conduta social


"Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade".

(trecho de Lisbon Revisited, poema de Álvaro de Campos)

amizade-amor-escola-trabalho-casamento-filhos-religião-submissão-morte-Deus-inferno-felicidade-responsabilidade-juventude-polidez-hipocrisia-lei-fé-boa aparência-"viver de aparências"-posse-dinheiro-sucesso................

O que é essencial à vida? O que é natural? E o que é imposto? O que, realmente, faz feliz ? O que é a felicidade? Ser semi-deus (ou o mais "correto" possível) segundo os parâmetros tão arraigados pela civilização? Tentar ser fiel ao coração, em detrimento da "razão" ? A razão é fruto do coletivo, a razão é coletiva e, por isso, geralmente a razão torna-se preponderante, porque o social pesa muito mais do que o "de dentro", pelo menos para a maioria das pessoas.
Quantas culturas a viver sobre a Terra, quão distintas umas das outras, algumas totalmente antagônicas... Quem tem a verdade? O que é bom? O que é correto? A tendência é sempre supor corretos os "nossos" valores (de família, de cultura, de religião, de grupo social, de hemisfério, etc...). Montaigne* tem uma frase que considero chave para quase todas as respostas:

Chacun appelle barbarie ce qui n'est pas de son usage (Livre II).

"Cada um considera barbárie aquilo que não é de seu uso".

Discutir o ser marionete da cultura na qual estamos inseridos é bem comum, no entanto, mesmo aqueles que tentam cortar as cordas do seu corpo, buscando a "liberdade" e a possibilidade de não ser marionete, também são, foram ou serão corrompidos algum dia. Será ? Será que não dá pra tentar fugir do cárcere dos valores e da "boa" conduta social ?

"Cada indivíduo sempre teve de lutar para evitar a opressão da tribo. Se você tentar, muitas vezes estará sozinho e, noutras, assustado. Mas não há preço que pague pelo privilégio de ser dono do próprio nariz".

Friedrich Nietzche (1844-1900)

* Montaigne - Escritor francês do século XVI .Criador do termo "ensaio", gênero o qual ele usou para falar de diversas questões, como a educação, por exemplo.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Grande Sertão: Veredas ~> Aforismos Riobaldianos

Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, é uma obra emocionante, sensível, grandiosa e, sobretudo, humana. A estória relatada, através das memórias um tanto desconexas do velho Riobaldo, que apresenta espaços definidos (Norte de Minas, Bahia e Goiás) e um tipo definido, o jagunço, sobreleva-se ao adquirir caráter universal, na medida em que os maiores conflitos apresentados na obra são de natureza interior. As inquietações riobaldianas tão fortes, tão complexas são proferidas de maneira magnífica através da latente profundidade expressa através de palavras e aforismos. A incompletude do homem que o faz viver numa constante busca por respostas é marca fundamental da obra. Recomendo ardorosamente!

a.fo.ris.mo s.m. máxima ou sentença que exprime pensamento moral; ditado.

"...o mais importante e bonito, do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas estão sempre mudando. Afinam e desafinam". (p. 22)

"Viver é muito perigoso".

"E, alma, o que é ? Alma tem de ser coisa interna supremada, muito mais do que o de dentro..." (p. 25)

"O que induz a gente para as más ações estranhas , é que a gente está pertinho do que é nosso , por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!" (p. 100)

"Esta vida é de cabeça-para-baixo, ninguém pode medir suas perdas e colheitas". (p. 145)

"Viver perto das pessoas é sempre dificultoso, na face dos olhos". (p. 176)

"A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado". (p. 221)

"...julgamento é sempre defeituoso, porque a gente julga é o passado". (p.269)

"...tudo que é bonito é absurdo..." (p. 288)

"Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo". (p. 304)

"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende". (p.310)

"A gente sabe mais , de um homem, é o que ele esconde". (p. 337)

"... amor é a gente querendo achar o que é da gente". (p. 361)

"A gente só sabe bem aquilo que não entende". (p. 378)

"Parente não é o escolhido – é o demarcado". (p. 428)

"O amor só mente para dizer maior verdade". (p. 487)

"A vida é um vago variado". (p. 500)

"A vida é muito discordada, tem partes, tem artes, tem as neblinas do Siruiz. Tem as caras todas do Cão, e as vertentes do viver". (p. 504)

"Sossego traz desejos". (p. 524)

"Viver é um descuido prosseguido".

"Sertão é o sozinho. / Sertão: é dentro da gente. / ...sertão é sem lugar".

"Vivendo, se aprende, mas o que se aprende , mais, é só a fazer maiores perguntas".

"...quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade". (p. 552)

OBS: A marcação de páginas diz respeito à edição de 2006 da Editora Nova Fronteira.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O livro vai, realmente, morrer algum dia ?

A discussão do anúncio da morte do livro faz-se presente há muito tempo na nossa sociedade. No entanto, as profecias de inúmeros intelectuais ou, nos dias de hoje, defensores da tecnologia exacerbada têm se chocado com alguns fenômenos do tipo best-seller. Desse modo, as profecias anulam-se em medida grandiosa, ou melhor, em medida de tiragens de milhões. O que se pode pensar a despeito desse tipo de fenômeno? O autor não quer se informatizar ? Ele se colide com a novidade ? Não creio. Acredito, no entanto, que o valor, o peso e o cheiro, sim, o cheiro do livro restam firmes e fortes, na sociedade onde tudo se informatiza, desde o texto escrito até a música, passando pelo filme e pela fotografia.
Como assinalou Ferreira Gullar*, em ordem cronológica, a morte do livro foi anunciada em diversos pontos da História, com o advento de certas tecnologias – com a invenção do gramofone, por exemplo, Apollinaire** apostou no abandono ao papel, pelo poeta, em detrimento ao disco. Não se confirmou. Mais tarde, a ocasião deu palavra à profecia de Philip Roth***, que ao observar o fenômeno da televisão, apontou uma suposta morte do livro, devido à falta de leitores. Hoje em dia, as novas tecnologias da informação suscitam inúmeros debates em relação à morte (ou não) do livro. A digitalização do livro, as bibliotecas virtuais e o grande conteúdo literário disponível para download são alguns dos motivos do abrasamento de tais discussões.
Embora a tecnologia pareça ameaçar, em boa medida, o livro, este vem mantendo a sua importância e presença irrefutável. Inclusive, cada vez mais, há o estímulo pela leitura do livro clássico. Cada vez mais, surgem eventos dedicados à Literatura e informação, em contemplação aos instrumentos de papel impresso: livros, revistas, etc.
O livro não morre, não importa a tecnologia que apareça, muito antes pelo contrário, em pleno século XXI tem-se uma grande procura pelo livro, como aponta o caso do fenômeno antes citado, o best-seller.

[Extrato de um ensaio meu produzido para a disciplina de Estudo do Texto. Julho/2007]



* Ferreira Gullar trata do assunto num artigo intitulado A Morte do Livro:

GULLAR, Ferreira. A Morte do Livro. Folha de São Paulo, Ilustrada. 19 de março de 2006

** Apollinaire - Poeta francês (1880-1918)
*** Philip Roth - escritor norte-americano

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

All Shook up




Em Arte, vale à pena pegar a máquina do tempo e verificar o que aconteceu em décadas passadas, séculos passados (dependendo da Arte), até para compreender a Arte contemporânea, analisar a transformação, a "evolução" - uso aspas porque considero o conceito de evolução muito relativo, principalmente em Arte.

Bom, este vídeo data do final da década de 50, quem não ouviu falar de Elvis Presley, o rei do rock ?! Vale à pena pesquisar: o ritmo é totalmente envolvente e ele mexeu demais com a emoção e a opinião pública na época em que despontara, visto que ele começou a fazer um som que era tipicamente feito por negros e isso provocou um exaltado constrangimento à opinião mais conservadora, num Estados Unidos altamente segregador em relação à raça negra, EUA da KKK, do negro à pé no transporte coletivo, etc, etc...

"Elvis não morreu", tampouco sua música deve deixar de ser ouvida.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Cotas: à favor ou contra ? O que importa é que haja bom-senso.

Inscrição no CV (Centro de Vivência), na UFRGS (foto por Gabriela, por isso um tanto descentralizada)

Até hoje pergunto-me quem poderia ter feito tal inscrição. Uma ironia ? Um protesto ? Uma brincadeira de mau-gosto ? O que significa isso ?

Após muitos debates fervorosos, houve a decisão à favor das cotas raciais e para alunos oriundos da rede pública de ensino. Isso todo mundo já sabe, todo mundo debate à torto e à direito essa questão, mas quem, de fato, discute esse tema com propriedade ? Qual é a informação que os adeptos às cotas e os não-adeptos têm realmente ?
Quando a possibilidade de ingresso à Universidade através de cotas surgiu, muitas pessoas revoltaram-se violentamente, inclusive eu. Hoje em dia penso diferente e vejo a decisão pelas cotas com um olhar mais ameno. Ora, é lamentável que o governo assuma ações "populistas" e use a educação para fazer marketing, deixando a qualidade do ensino à margem dos belos números que crescem para o deleite da ONU. Analfabestismo em fase de extinção, ingresso cada vez mais elevado no ensino fundamental e médio, mas e a qualidade ? Será que a proporção qualitativa cresce na mesma proporção quantitativa ? A educação pública de base, no Brasil, chega a ser uma piada, principalmente nas regiões de grande exclusão social.
OK! O governo não está, realmente, preocupado em reformar a educação, afinal, isso leva muito tempo e é mais fácil, obviamente, usar paliativos como o PROUNI e o sistema de cotas nas universidades federais, como meio de tapar o buraco que está lá na base. No entanto, é preciso que se analise o outro lado da moeda.
Todo o cidadão, seja ele da classe que for, paga imposto bem alto na alimentação básica, por exemplo. Todo aquele cidadão que contribui para /com o país tem o direito de usufruir do patrimônio público, assim como a universidade. Então, as pessoas que vêm de um ensino básico deficitário devem contentar-se com empregos subalternos e com a impossibilidade de cursar uma graduação, por exemplo ?
Quem nos dera houvesse um governo que se preocupasse em plantar boas sementes para que os frutos fossem belos e produtivos, mas para quê ? Um mandato dura 4 anos, no máximo 8. Portanto, é interessante pensar que pessoas que jamais ousariam fazer um vestibular, hoje estão inscritas e, quem sabe, esperançosas em adentrar ao universo acadêmico, território que antes só poderia ser uma realidade das classes média e alta.
As correntes pró-cotas e contra-cotas já discutiram muito, muito ainda vai (e deve) ser discutido, mas enquanto as cotas são realidade, é importante que a sociedade e principalmente a comunidade acadêmica não tenha postura segregadora em relação aos cotistas, afinal, se eles estão nessa situação de exceção é porque o sistema caminhou para tal realidade. Bom-senso é imprescindível.
O vestibular aproxima-se... Boa sorte a todos (cotistas e não-cotistas), afinal, a universidade DEVERIA ser de todos.