quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Bilan numéro 2

E da boa convivência nasce o amor... Pelo cenário e, principalmente, pelos atores: ora cômicos, ora trágicos, e sempre humanos, com todas as suas incertezas, chatices e tolices (porque qual é, afinal, a graça de ser humano sem ter incertezas, chatices e tolices?). Com um pouco de cuidado, dá para acompanhar a ascensão de alguns perfis psicológicos, pois, no decorrer do tempo, percebe-se alguém pelo que está lá dentro; a superfície dos primeiros momentos deixa, então, de preponderar.

O fim do espetáculo aproxima-se e os atores, exaustos, já (ou há muito tempo) sonham outros papéis, quem sabe algum mais feliz... Ou um que dê mais satisfação... Ou um que seja diametralmente oposto a estes que viveram. É impossível saber com precisão onde vai parar cada uma destas estrelas, o importante é que sejam felizes em suas escolhas, sem perder o entusiasmo e, é claro, sem perder aquele fator que as torna especiais: a singularidade.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bilan numéro 1

Porto Alegre, 18 de novembro de 2009: um mês e tudo terá acabado! E fico alegre e triste... Como estes cinco anos de curso de Letras voaram. Não, não voaram: foram "cinquenta anos em cinco". Voaram porque foram ótimos anos de quebra de paradigmas, de conhecimentos úteis, semi-úteis, totalmente inúteis... Estenderam-se porque é sempre assaz longo o caminho que te levas a certas verdades e, sobretudo, a muitas dúvidas.


Cinco verões de tédio ansiando pela volta às aulas, cinco outonos de emoções e chuvas dentro da gente, cinco invernos de acolhedoras conversas e cafés e sorrisos no bar do Antônio, cinco primaveras de corações desabrochando para o amor (e para o ódio, porque quando tu cresces, tu vês que a vida constitui-se de dicotomias). Bem, no final das contas, tudo se mistura em perfeita harmonia, afinal, mesmo aqui no sul já não temos estações tão definidas... E mais indefinido do que qualquer estação é o coração de alguém que está prestes a deixar para trás mais uma etapa da vida... E me dou conta que mais do que conhecer, tu aprendes a te conhecer.


Longas viagens de ônibus até o campus mais longínquo, livros espalhados aos quatro cantos de mim, pessoas que cambiaran mi vida para siempre para lo que fué y sera, sentimentos que são mais complexos do que a gramática gerativa do Chomsky, afinal, não dá para colocar amor nem sonhos no spec de VP ou crer que alegria e tristeza não advêm de um agente. Gosto mesmo dos verbos que selecionam dois argumentos, pois são menos egoístas e solitários. Em suma, mesmo que sofras muitas vezes por não conseguires transpor à estrutura superficial toda a magnificência da estrutura profunda, não, nunca poderás colocar a vida em árvores.


Incrível que quanto mais tu adquires autonomia, mais passas a te fiar em teus mestres... Mestre é aquele que desvenda o melhor que há em ti, e também faz emergir brutalmente todas as tuas deficiências. Aprendi, nos últimos anos, a dar preferência àqueles que dizem que estou equivocada àqueles que, por lassidão, ignoram ou toleram meus erros (que não são poucos).


Sinto-me inapta a concluir este texto, embora não me sinta de todo inapta a concluir o curso de Letras. Não quero que o canudo que me será conferido represente um fim, mas um meio de prosseguir... É que aprendi a amar isto que não sei bem definir: livros, ilusões, questionamentos, tensões... Não lembro mais como viver sem isto.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Manifesto de uma abstêmia


Tento me explicar, mas não dá, não dá: aqueles que me amam reclamam minha ausência... Por que é tão difícil entender? Não é auto-suficiência, é necessidade de estar só, chamo de cansaço... Gosto de descansar nos braços da solidão e dormir, como alguém que não quer ser despertado tão cedo.

Amo, óbvio que amo! Mas a saudade é algo bom de prolongar, para que o encontro tenha mais emoção. Sem obrigação nem pressão: quero abraçar e beijar sutilmente, cansei de ter pressa...

Aquilo que não se percebe é que nunca se é realmente “auto-suficiente”... Mesmo aqueles que não demonstram por lassidão ou vaidade; mesmo estes precisam de uma mão que acaricie, acolha simplesmente...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Digressão ou devaneio ?

Eu queria mesmo era abraçar o mundo, perder o fôlego e o bom-senso (por infinitos cinco minutos...).
Como é bom gozar de pequenos e singulares fragmentos de vida, motivados pela inquietude e pela dúvida. Estas, no final das contas, motivam e constroem mais do que qualquer certeza.
Mas as malditas certezas tentam me cegar: através de falsos pilares, elas propõem edificar conceitos monumentais, naturalizados, banalizados... E, no fim desse processo, eu perco a singularidade. Não quero perdê-la, não quero que os anos levem a dúvida, a revolta
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E saio pelo corredor e beijo aquele desconhecido de alguns anos... Em silêncio
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Convenço-me cada vez mais que o conceito de certo é demasiado restrito e volátil.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Je suis là, presque là. Paris, j'arrive..." : certains endroits de la ville la plus belle que j'ai connue

I - Le Moulin Rouge

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"And you can tell everybody this is your song
It may be quite simple but now that it's done
I hope you don't mind
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is now you're in the world..."

sexta-feira, 3 de julho de 2009

"Uma alegria diferente de todas aquelas que a precederam"

Por vezes é desejado um tratamento do tipo “brilho eterno de uma mente sem lembranças”, mas isso, com certeza, representa mais uma das grandes bobagens que se deseja ao longo da vida. Não há como nem por que negar a história do indivíduo, logo, é necessário ter maturidade e competência para fazer coexistir o passado e o presente: não dá para trazer para o presente os estigmas do passado, nem as alegrias podem ser trazidas, afinal de contas... Só na recordação, seja ela boa ou ruim. Mas a recordação sem traumas e comparações: é comparando situações com situações e pessoas com pessoas que se acaba atribuindo valor excessivo ao passado que se torna uma entidade idealizada e, por consequência, há a desvalorização do que proporciona vida na contemporaneidade. O ideal é uma grande piada, vazio e plástico como toda a perfeição.

Chaque minute doit apporter sa joie, - une joie différente de toutes celles qui l’ont précédée
(MAURIAC, 1927)

“Cada minuto deve trazer a sua alegria : uma alegria diferente de todas aquelas que a precederam.”

sábado, 23 de maio de 2009

40 e poucos anos

O medo de envelhecer é ponto crucial em se tratando de suas escolhas tortuosas. Ela precisa sentir-se viva e, para isso, busca paixão em braços da juventude. Ela quer a juventude alegórica: destemida, cáustica, entusiasta, intensa. Ela quer o direito de (re)começar. No entanto, não se recomeça uma vida, a solução é continuar. Não há como se evadir do tempo: o que foi, o que é e o que será. Imatura malgrado os anos vividos, não aprendeu que com sentimentos não se brinca. Não aprendeu o imprescindível: o ardor não habita o corpo, mas a essência. Ela nunca vai, de fato, incendiar-se, embora saiba incinerar sonhos. As cinzas estão espalhadas... Ou melhor, as cinzas estão ocultas sob um soberbo tapete ou um cofre dentro do armário. Armário? Ela nunca sairá do seu.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

E quem brinca com fogo...

Diverte
Diverte-se
Inflama, abrasa
e abraça...
Merece
não ter morna existência
Carece de juízo,
por isso
excede os limites...

Não tem certezas -
proeza de quem leva uma vida
tranquila e jamais questiona
ou oscila –
Não quer certezas:
quer o mundo
infinito, profundo e absurdo...
E uma dose de tristeza

Convite às distrações,
perturbações
e contradições
Penitência pelos crimes
da urgência,
indolência e
demência.

Parece
que tudo tem que estar “no lugar”...
Acontece:
Lugar correto,
Sujeito correto,
Momento tortuoso.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Setembro passado

Sinto falta de sensações que não sei exatamente. Sinto falta da atmosfera fria e acolhedora, ilusão de liberdade, eu comigo mesma "perdida numa noite suja". A sujeira está nos homens, não nas ruas.
Este vazio é quase um afago. Quero caminhar naquela avenida novamente. Quero sentir o prazer da noite glacial que queima a alma, anseio pelo deleite das sutis distrações. Vontade de gritar e experimentar todas as sensações do mundo ao mesmo tempo.
Ah, o prazer hedonista...
O que desejo? O efêmero que fica eternamente impresso na memória: tenho alguns "efêmeros" na minha coleção.
Não preciso de fotos: os fatos falam por si só. Prefiro não ter fotos, só assim eu construo, a cada vez, uma mesma imagem diferente... Com um fundo musical, um sabor, um cheiro (e uso "cheiro" porque o conceito de "perfume" é demasiado restrito)
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a memória guarda todas as impressões, todos os sentimentos.


"Hay recuerdos que no voy a borrar
personas que no voy a olvidar
hay aromas que me quiero llevar
silencios que prefiero callar..."
(Fito Paez)

sábado, 25 de abril de 2009

“Onde está o amor?”

Eu quero ser feliz hoje, com pessoas que sejam felizes hoje.
Não há prazer, não há amor: “A vida não tem mais sentido, o vinho não tem mais sabor”.
Não há brilho nos olhos, não há ardor: “Quando eu terminar o curso, quando eu encontrar alguém e constituir uma família, eu vou...”
Não há empolgação no aqui e agora, não há espontaneidade: “Eu serei feliz amanhã!”.

O amanhã não existe: é uma ilusão temporal, uma utopia; não é mais que uma projeção “feliz” do hoje frustrado, frustrante e morno... E é tão difícil de (fazer) enxergar. O amanhã não existe simplesmente porque a dificuldade de agregar (e depreender) beleza do aparentemente banal e momentâneo faz com que a satisfação seja relegada e protelada a cada hoje vivido.

“Onde está o amor?”

Certamente é mais fácil acomodar-se em ilusões, mas, no final das contas, esse caminho só leva a lugares de baixa ou nenhuma relevância. Lutando fortemente contra o comodismo, eu continuarei buscando o amor (pela vida) no aqui e agora.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vivo em crise. E vago pelas ruas do meu porto alegre

“Quando tu estiveres prestes a morrer, toda a tua vida passará diante de teus olhos como em um grande flashback”.

Não comigo, não agora. Não, não deve ser a morte, não seria natural se assim fosse. Definitivamente não agora. Mas aquelas duas cenas insistem em voltar, cenas distintas, combinadas de modo a provocar um misto de dor e prazer. Não dá. Não dá para separar a dor do prazer e entenda dor como medo ou culpa, nunca como arrependimento.
Eu gosto mesmo é de errar por aí e sentir os perfumes confusos, os sabores excêntricos , as cores indefinidas, os sons/silêncios ensurdecedores e o toque penetrante da rua, das ruas em movimento.
As duas cenas voltam: uma delas foi, uma nunca será... Talvez por isso possam se fundir em perfeita harmonia: os olhos dele me abraçaram desde o princípio; os meus olhos jamais tornarão a abraçá-la...
E eu continuo a errar, meus sentidos se comprazem e amo o que vejo; amo, sobretudo, a liberdade de estar acompanhada somente da recordação. Há sim, sempre haverá prazer na dor, nem que ele só possa ser sentido no final do tal processo de aprendizagem. “Quando é que refletimos ? Nos momentos de crise, afinal, não há porque (querer) mudar o que está bom”.
Vivo em crise. E vago pelas ruas do meu porto alegre.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Retorno

Inicia, finalmente, o ano.
Mentes agitadas, como a minha, não apreciam (ou apreciam pouco) os prazeres corriqueiros das férias. Viajar, sair, descansar: lances interessantes, mas será que três meses não é tempo demais para isso? É aí que surge aquele do qual desvio incessantemente: o tédio. Canso de descansar, a alma está vulnerável e o corpo rejeita distrações externas devido à indolência do espírito. O tédio leva à depressão ou é uma consequência dela ? Hmm, não falemos em “depressão”! Tal mal vem sendo usado para justificar os problemas mais distintos, nos múltiplos segmentos da sociedade pós-moderna blá blá blá. Só que isso não importa agora, porque eis que acontecerá O Retorno.
O Retorno compreende horas e horas de stress diário, reuniões marcadas, compromissos “inadiáveis”, pessoas em ritmos diferentes que insistem em colidir e rumar a lugar algum. O Retorno abrange também pessoas a se conhecer no ambiente de sempre, outras a se encontrar e conversar ou simplesmente apreciar, em silêncio, o prazer da companhia daquele que não se vê há tempos. O Retorno diz “até logo” ao verão e começa a sentir o vento frio do outono (como é bom sentir frio!)... Apesar de todos os pesares, eu espero ansiosa e feliz O Retorno, porque prefiro mil vezes o stress que produz ao tédio que dilacera as pessoas mais brilhantes.