quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bilan numéro 1

Porto Alegre, 18 de novembro de 2009: um mês e tudo terá acabado! E fico alegre e triste... Como estes cinco anos de curso de Letras voaram. Não, não voaram: foram "cinquenta anos em cinco". Voaram porque foram ótimos anos de quebra de paradigmas, de conhecimentos úteis, semi-úteis, totalmente inúteis... Estenderam-se porque é sempre assaz longo o caminho que te levas a certas verdades e, sobretudo, a muitas dúvidas.


Cinco verões de tédio ansiando pela volta às aulas, cinco outonos de emoções e chuvas dentro da gente, cinco invernos de acolhedoras conversas e cafés e sorrisos no bar do Antônio, cinco primaveras de corações desabrochando para o amor (e para o ódio, porque quando tu cresces, tu vês que a vida constitui-se de dicotomias). Bem, no final das contas, tudo se mistura em perfeita harmonia, afinal, mesmo aqui no sul já não temos estações tão definidas... E mais indefinido do que qualquer estação é o coração de alguém que está prestes a deixar para trás mais uma etapa da vida... E me dou conta que mais do que conhecer, tu aprendes a te conhecer.


Longas viagens de ônibus até o campus mais longínquo, livros espalhados aos quatro cantos de mim, pessoas que cambiaran mi vida para siempre para lo que fué y sera, sentimentos que são mais complexos do que a gramática gerativa do Chomsky, afinal, não dá para colocar amor nem sonhos no spec de VP ou crer que alegria e tristeza não advêm de um agente. Gosto mesmo dos verbos que selecionam dois argumentos, pois são menos egoístas e solitários. Em suma, mesmo que sofras muitas vezes por não conseguires transpor à estrutura superficial toda a magnificência da estrutura profunda, não, nunca poderás colocar a vida em árvores.


Incrível que quanto mais tu adquires autonomia, mais passas a te fiar em teus mestres... Mestre é aquele que desvenda o melhor que há em ti, e também faz emergir brutalmente todas as tuas deficiências. Aprendi, nos últimos anos, a dar preferência àqueles que dizem que estou equivocada àqueles que, por lassidão, ignoram ou toleram meus erros (que não são poucos).


Sinto-me inapta a concluir este texto, embora não me sinta de todo inapta a concluir o curso de Letras. Não quero que o canudo que me será conferido represente um fim, mas um meio de prosseguir... É que aprendi a amar isto que não sei bem definir: livros, ilusões, questionamentos, tensões... Não lembro mais como viver sem isto.

Um comentário:

  1. Eu prefiro os meios aos fins!!! (adaptando um pouco Francis Bacon)

    Também não consigo me enxergar mais sem as viagens ao Vale, os livros, as conversas no Antônio... Descobri que realmente gosto disso. (nunca gostei de férias mesmo)

    Uma página se vira. É isso. Mas, ao fazer o que tu gosta, sempre haverão novas alegrias. E o meio sempre será prazeroso e o fim que espere um pouco.

    Bj.

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