domingo, 30 de dezembro de 2007

Top 5 Machado de Assis

Há uns dois meses atrás, um jornalista, do grupo RBS, bem conceituado e famoso pelas coisas que escreve acerca de esportes e mulheres caiu na asneira de dizer que Machado de Assis não escrevia bem. Cada um tem a sua opinião, mas dizer que Machado de Assis não escrevia bem, não apresentando nenhum argumento concreto, só pode ser "asneira" mesmo.
Meu conhecimento em Machado de Assis não é imenso, ainda que seja relevante (não que isso seja grande coisa, visto que sou estudante de Letras e Machado é ícone em se tratando de Literatura). Bom, aqui vai meu top5 Machado de Assis e alguns comentários que justificam as minhas escolhas:


1. Quincas Borba
Retrato de alguns tipos sociais sob o viés da comicidade.

2. Contos Fluminenses
Considero este rol de contos extremamente rico, principalmente no desenho, expressão e atuação da mulher enquanto personagem, inclusive em um dos contos Machado de Assis assume um eu-lírico feminino que é fabuloso (Confissões de uma viúva moça). Apesar de estar uma década à frente do marco inaugural do realismo (item 4 da lista), este compêndio de contos já apresenta traços bem marcantes da escola realista.

3. Esaú e Jacó
A história quase bobinha da rivalidade entre os irmãos Pedro e Paulo é enriquecida com o grande número de informações que mostra muito da História da sociedade do fim do século XIX - início do século XX no Brasil, questões práticas, ideológicas e o reforço de O Mudar para deixar como está.

4. Memórias Póstumas de Brás Cubas
Irreverência narrativa, situações cômicas, final fabuloso.

5. Papéis Avulsos
Irreverência em relação à Ciência e ao homem (O Alienista); Psicologismo (O Espelho).

Aliás, o que é "escrever mal" ?


"A Insustentável leveza do ser", de Milan Kundera

"Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes" (KUNDERA, p. 11).

Este trecho de A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, é um dos que mais me intriga em tal obra e eu o considero muito interessante na medida em que ele trata da dicotomia peso X leveza, acabando por atribuir valor 'positivo' ao peso. Todos temos "fardos" que incomodam, sufocam, no entanto, a presença desses fardos torna a vida real, humana, cheia de erros e acertos. Há quem busque a perfeição e tente livrar-se de todo e qualquer estigma social, a fim de tornar sua vida mais leve, a fim de refletir-se aceitável aos olhos do outro. O fardo faz parte da vida íntegra, fugir dele pode significar anular a vida ou aspectos magníficos dela; o fardo em si não representa um problema, mas a dificuldade (e o medo) de lidar com ele. A vida "perfeita", no sentido de enquadramento aos padrões político-social-religioso-moral-patriarcal-etc-etc, não é interessante, até porque a perfeição tem um quê acentuado de artificialidade.

sábado, 29 de dezembro de 2007


A Flor e a Náusea


Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada

Ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios,Garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.

(...)

É feia. Mas é realmente uma flor.


(Carlos Drummond de Andrade)


Em algum momento da vida perguntei-me: "Quem saberá o valor de uma flor ?". Juventude, beleza, fragilidade, contemplação, mas o tempo come todo e qualquer ser... Ela morre e é esquecida.


Um pouco de poesia...


"Nada me prende a nada. / Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. / Anseio com uma angústia de fome de carne / O que não sei que seja - / Definidamente pelo indefinido... "

Autor: Álvaro de Campos
Quando: 26/04/1926